MEU JEITO
Durante muito tempo
Esse triste sentimento
Machucou a gente
Da culpa ser sempre da serpente
Eva toda vestida e culpada
Medo de amar e ser amada
Durante muito tempo
Abri mão do “meu momento”
Criaram o mito da Ofélia
Esconderam as Adélias
Construíram histórias
Que nos tiraram da memória
Mas fomos nós
Que sempre desatamos os nós
Pintamos cavernas
Invadimos crateras
Enfeitamos o leito
Demos o nosso jeito
Essa culpa, essa dor
É de quem tem medo, certo pavor
Da força, do brilho da mulher
Essa pessoa que sabe o que quer
Não cabemos em novela
Somos cinema, somos tela
Assinamos o divórcio
Comandamos nosso equinócio
Dias e noites iguais
Direito a votar e a sermos sensuais
Ser mulher é tarefa dura
Mas já derrubamos até a ditadura
Façamos o mesmo com o preconceito
Vamos mostrar sempre que temos peito
Novela das nove não é ciência
Não dá nem tanta audiência
Acabe-se com as mocinhas
Sendo salvas e coitadinhas
Mulher atual é cheia de manha
Come o lobo, encara a trama
Mulher da vida real
Atira na cara o maldito sapatinho de cristal
Tem celulite, tem TPM, tem salário e tem estria
Mas ela é a rainha
Essa mulher normal não tem frescura
É cheia de ibope, está à altura
Entrou pelo mundo
Porta da frente, encontros profundos
É uma mulher protagonista
Gosta de estar na pista
Sabe cozinha, lavar, passar, encerar, costurar
Mas foi para a rua e de todos os jeitos, sabe mesmo é trabalhar
Não tem medo de encarar desafio
Fazer melodrama não é seu feitio
Gosta dos amores, dos filhos
Mas não abre mais mão do seu próprio destino
Ela é uma mulher vestida de sol
Traz dentro de si um paiol
Sua pólvora é seu sangue, sua luz
Essa mulher briga e seduz
A mulher de verdade, aqui entre a gente
É poderosa como fim de tarde com maré enchente
carla nobre
Enviado por carla nobre em 14/09/2013