O BRANCO INTERMINÁVEL
A sala da U.T.I. é gelada. Tem sons- tic, tic, tic...-, fios, banho de gato e um sono gelado. É uma sala branca, com pessoas de branco e de comida branca. Um branco assustador que lembra o homem morto e levado às pressas dali. A sala da U.T.I. é triste e quieta. Talvez pareça com o céu... O inferno não pode ser. Aprendi que ele é quente e barulhento. Só não aprendi que o céu podia ser triste... Mas havia o momento da luz, quando a U.T.I. se iluminava. Era como se o sol ousasse trazer seu calor. Era como se o vento pairasse no rosto, trazendo bactérias que não fariam tão mal assim... Havia um momento em que tudo se coloria. Poucas pessoas entravam, riam e conversavam. Traziam notícias do mundo e um pouco de carinho. Mas era um findo segundo. De repente, era como se aquelas visitas tivessem desobedecido, como Orfeu, o Senhor dos Hades e nós, pobres e solitárias Eurídices, lhes fugíssemos para sempre do toque amoroso. Tic, tic, tic, tic, tic, tic...
carla nobre
Enviado por carla nobre em 24/06/2006